segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

CHIÉ UMA HISTÓRIA DE LUTA

Descubra um pouco mais sobre a comunidade bem estruturada do bairro




Por Adriana Dutra


Dentro do bairro de Campo Grande encontramos uma localidade chamada Chié. O nome deve-se ao fato da região ter mangues e com muitos peixes e crustáceos; e o chié é uma espécie de “caranguejo” pequeno, como uma “maria farinha”, e que era muito encontrada na região.
A comunidade do chié era uma ilha entre a fábrica Tacaruna e o prédio da antiga COHAB. Na década de 30, o mangue prevalecia em todo o espaço da comunidade (além do canal natural) que atravessava o bairro. As pessoas passaram a ocupar o local para morar devido as fábricas, como: Tacaruna, Usina Beltrão, o Matadouro de Peixinhos; pois Campo Grande começou ser habitado por famílias de origem simples, que não tinham condições de construir casas de tijolos.
Na esperança de trabalhar nas fábricas próximas da área, eles faziam seus barracos. O aterro era feito com o próprio lixo formando pequenas ilhas e o veículo usado por eles era o bote ou a barcaça, transportando às famílias de uma ilha à outra.
Com a construção da Escola de Aprendizes Marinheiros, na década de 40, mais famílias chegavam para morar na área ribeirinha do mangue. “No início o aterro nesta área do mangue era feito com pó de serra.” Lembra Dona Irene Santos, que também participou durante a sua juventude na luta.
Em 1950, surgiu na comunidade, a primeira grande mobilização da “Liga Social contra o Mocambo”, no governo de Agamenon Magalhães com a parceria da Prefeitura, na tentativa de expulsar, todos da área. Porém, a população resistiu. Criaram em 1963 a primeira Associação dos Moradores, com seus "revolucionários": Sebastião Ribeiro, Tasso Bezerra, Cecília Rodrigues, Anita Alves, Marina Amorim, dentre outros. Destes, apenas o senhor Tasso não está mais vivo. Sebastião Ribeiro foi o primeiro vice-presidente da Associação dos Moradores, na presidência oficial de Raimundo Barbosa. Sra. Anita Alves e Marina Amorim, foram fundadoras da Escola Comunitária. Mais tarde, juntos iniciaram o MCP (movimento de cultura popular) trazendo para a comunidade a Escola Comunitária Mundo Infantil do Chié e o Posto de Saúde que ainda hoje existe (com o nome do senhor Tasso Bezerra).
No ano seguinte a Escola e a Associação dos Moradores foram fechadas pelo governo. Procurando também os líderes do movimento.
Com a primeira grande cheia de 1966, parte da comunidade perdeu tudo o que tinha, a causa do lixo aterrado nas áreas de mangues foi o principal vilão da invasão da maré, e toda a parte construída do Shopping Tacaruna e Escola de Aprendizes foi considerado o impacto ao meio ambiente.
Ainda o governo de Agamenon Magalhães, construiu uma avenida principal com seu nome (Avenida Agamenon Magalhães), e os moradores foram obrigados a recuar o local, deixando a favela com pouco espaço e muitos moradores. Todos receberam uma pequena quantia de indenização, porém a resistência era maior.
A luta só estava prestes a terminar no governo de Miguel Arraes, com o tema em sua cartilha de projetos “Arraes faz, ninguém apaga”. Todas as famílias do “velho chié” receberam material de construção para montar o seu teto. As outras comunidades de Campo Grande como Ilha de Joaneiro, também foi beneficiada e até hoje todos mencionados nesta matéria que fizeram parte da luta lembram de Arraes como “salvador do Chié”.
A ilha Chié começou a ganhar forças e consegue os primeiros resultados da organização do povo em 1990, quando em todo o lugar que era mangue os moradores construíram casas de alvenaria, ganharam ruas asfaltadas e iluminação. Ainda na década de 90 foi produzido um livro “CONHECER MELHOR PARA SABER COMO MUDAR: CHIÉ UMA HISTÓRIA DE LUTA” pela ONG Etapas (Equipe Técnica de Assessoria e Ação Social) que trabalha com projetos de apoio, surgimento de grupos comunitários e associações de moradores. Incentivando a mobilização e o fortalecimento das entidades gerais de movimento, como Federações de Bairro.
A resistência desse povo pela posse de terra, trouxe um ar diferente para seus filhos e netos que desde então aprenderam com seus pais a defenderem seu espaço. “Só saiu daqui do chié quando morrer”, afirma Sebastião, pois seu esforço serviu por cada casa erguida e cada lar conquistado.
A comunidade em seu início possuía cerca de 500 a 600 famílias, atualmente de acordo com Sra. Anita Alves já ultrapassa 3.000 pessoas. “Formamos um “bairro” dentro do nosso próprio bairro.” Finaliza. O Chié para eles é a “favela” mais organizada e urbanizada do Recife.


UMA VISÃO DIFERENTE
Debates e capacitações são realizados para os jovens do Chié

Por Adriana Dutra

No Chié, há um trabalho de inclusão social e direitos humanos. Esse movimento tem o nome de GAV (Grupo Acreditando e Vivenciando), que oferece para as crianças da comunidade e do bairro o direito de torná-las futuras cidadãs.
Com 3 anos de fundação, na liderança voluntária de Virlane Silva, que encontrou nessas meninas, amor e carinho e a vontade de serem futuras jovens de valor, e a preocupação em passar tudo o que aprendeu na sua infância e adolescência na Casa de Passagem.
Com uma média de 10 a 15 entre meninas e meninos, com idades de 7 a 18 anos, o projeto tem como objetivo principal, trazer para elas a nossa cultura e fortalecer socialmente cada menina que participa.
O Grupo oferece palestras para crianças voltadas para dinâmicas e para as mais jovens são realizados debates, com temas: Gravidez na adolescência, sexo, direitos humanos, acordo e convivências, mostrando para elas de perto sobre a realidade desconhecida no dia-a-dia e incentivando-as para uma reflexão.
“As atividades do grupo acontecem nas terças-feiras e sábados a partir das 9:00 até as 11:00 da manhã”. Afirma Virlane e completa que “os lanches são doações que recebem dos próprios moradores”.
O GAV conta também com o apoio de vídeos e materiais para capacitação de AMIS (Adolescentes Multiplicadores de Informações) fornecidos pelo Posto de Saúde da unidade do Chié II, Associação dos moradores e Casa de Passagem.
Para Virlane, existe uma certeza de melhoria para crianças e adolescentes da vizinhança e oportunidades de um trabalho socio-cultural e voluntário que busque o interesse pelas crianças da comunidade do Chié.

7 comentários:

Toni disse...

Brilhante, Adriana.
Parabéns!

BetinaOliveira disse...

A Escola Itinerante de Informática está atualmente locada na Comunidade Chié. Achei o blog e a história muito boa parabéns.

PALLOMINHA!!!! disse...

eu moro na comunidade do chié adorei essa publicação ,parabéns adorei.beijos..

Guilherme Evanderson disse...

parabéns meu querido chié não há vitoria sem luta e parabéns ao JORNAL CAMPO GRANDE EM FOCO !!! um grande abraço do amigo de sempre de toda comunidade GUILHERME EVANDERSON(NETO_DONA MOCINHA)

Unknown disse...

Muito agradecido a todos vocês que ajudar a comunidade do chie obg po tudo ficar com Deus Ass adelso José

Unknown disse...

boa noite. existe uma comunidade de ciganos por aí? a casa de mocinha

Gesse James disse...

Conhecir a maoria dos fundadores da associação de moradores da comunidade do Chié fui socio e diretor gente boa seu Tasso Bezerra, dona Cecilia, Raimundo, Sebastião, sr.Luiz e outros sem falar nos gêmios que ajudaram muito o Chié